sábado, 26 de junho de 2010

Herança.


Eu deixo pra depois.

O que eu não posso.

As coisas que não são

pra hoje.

Deixo pra depois

da letargia.

Deixo sequenciadas dentro

da pasta que guardo em mim.

Datilografadas numa folha amarela

com pequenos pássaros marrons.

Deixo minhas tempestades.

Meus raios solares que atravessam

janelas de vidro.

Minha perplexidade, e alguma mecha

do meu cabelo; para que se guarde a cor.

Eu deixo sorrisos soltos e talvez raros,

mas de grande verdade.

Eu deixo pra depois que se passem

as coisas que são necessárias.

Um veio que sempre corre molhando

a esperança, quando ela ameaça secar.

Deixo um par de tênis velho para tardes

de outono, e um olhar de cílios

longos, de onde saem toda luz que preciso!

È uma pasta pequena, mas onde cabem

todos os sonhos do mundo!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sonífero.

O imenso não é tão grande.
O que o torna imenso é o vazio.
Cortes na carne e sal para refrescar.
Segue-se no outro dia.
O sol alto, a fumaça encaixotada na
garganta, o despertar.
Toda palavra é arma e rima.
Toda sorte e sortilégio, formam
o que virá.
Tranquilo, infalível, visceral.
O intervalo da noite.
A mão passada na cabeça, o sonho.
Sono...Amanhã deixo minhas pupilas
à mostra.
A manhã deixa suas pupilas à mostra!



terça-feira, 15 de junho de 2010

Percepções.

...E eu ainda continuo soprando as mãos com meu hálito de bala halls.
È um gesto involuntário, de tempos.
Ao entrar no ónibus, o repeti sem ver; pela lembrança, pelo frio.
Pequenas percepções sensoriais.
A moça da poltrona à frente, tirou um pequeno espelho de bolsa
para retocar o batom; o que me fez reparar em suas unhas.
Eram unhas bonitas. Curvadas, longas, de onde a cor sangue brotava
do esmalte. Pequenas percepções...
Olhei para as minhas próprias unhas.Eram pequenas, curtas, e raramente esmaltadas.
Alguma cutícula aparecia.
Analogicamante muito diferentes das unhas da moça da
poltrona à frente.
Olhei novamente minhas mãos. Tão normais!
Brancas e pequenas, as unhas curtas, os dedos nodosos...
Me esqueci daquilo.
Os vidros das janelas escorriam água de frio, a poltrona apertada,
e a distância do engarrafamento.
Sim, era como se estivéssemos mesmo dentro de uma garrafa...
Apertei a blusa de lã, soprei as mãos e esperei o sono.