domingo, 22 de janeiro de 2012

Fado.



Eu continuo escrevendo.



Dedos , mãos.



Essa chuva cinza.



Os dias de sol.



Os olhares, todas as coisas não ditas.



A turbulência, os sons.



E os reflexos de minha janela de vidro.



A insensatez.



O olhar do meu filho.



A enxurrada vermelha, o vento...



Todas as parabólicas, as parábolas.



Os poemas de outrem.



A alegria simples de ser e estar.



A leveza de não ter bagagem.



A ânsia.



Todos os gestos atemporais e seus sinais.



Meus amigos e suas linhas.



Toda cor em preto e branco.



Todos os livros e seus perfumes guardados!



Toda palavra, garganta.



Toda fotografia não revelada.



Toda lembrança futura e passada.



Eu continuo escrevendo, com a caneta do tempo.



Um livro sem final.

sábado, 24 de setembro de 2011

Tá tudo confuso
fora de fuso
fora dos eixos
todo dia, a dor bate no peito
não quer saber se tem direito.
Alavanca as comportas; abre , fecha
desagua em qualquer lugar!
Pouco importa se não sou mar!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Fonética



Sem acento



agudo fica



essa dor.

domingo, 17 de julho de 2011

O Bilhete.



Bilhetinho!?



E cravou em mim seu olhar de breu;



agora vazio e oblíquo.



Nervosamente, o pé agitava a poeira



do cimento, onde faltou o asfalto.



Eu continuava mudo.



Mas, como assim?



No bolso de sua carteira, escondido.



A raiva vazada.



Saiu em fúria pela rua.



Foi-se mesmo.



Minha carteira curiosa, no bolsinho



pequeno(o menor).



Um bilhetinho azul.



"O" bilhetinho.



Sem data, com letra de mulher.



Só consigo rir.



Datava na memória de cinco anos atrás, três



antes de conhecê-la...



Chutei o ar. Fui-me.



Congratulei-me pelo Dia do Homem.

sábado, 16 de julho de 2011

Leminskiando...



Tenho andado rato,



roubando o queijo



que sobrou no seu prato.



Tenho andado cão, lambendo



as feridas por viver na contra mão.



Tenho andado á toa, sem nunca ficar numa boa.



Tenho andado tão...



Tenho andado tanto!



Caçando um jeito,



de me enfiar no seu peito!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lucila, por ela mesma.


A mulher parou na calçada, e abriu seus olhos castanhos abstratos.

Olhos rasgados.

Lembrou-se por um momento de Caetano Veloso, que sempre a fazia

lembrar-se de exílio, Londres, caracois, cachecol e Roberto.

Olhou para os próprios pés, que nunca a levaram muito longe.

Lembrou-se da juventude, e de quantas vezes tentara obstinadamente

ir para a Austrália.

A Terra baixa e vermelha, marsupiais simpáticos.

A Terra que o mundo ficava em cima.

Pensou em como todas as coisas são abstratas.

Não consegue-se tocar nada!

Era estranho pensar em todas as possibilidades

que fora eliminando ao longo da vida.

Uma neblina ouropretana a envolvia de saudade.

Saudade de coisas atoas, fluidez e azul desbotado.

Sua terrível vulnerabilidade, sua asquerosa sensibilidade.

Mesmo ali na calçada, os paralelepípedos inutéis, o mesmo sol.

Ela sentia seus poros vivos, tangendo os sons e o suor.

Precisava atravessar a rua, pois era certo que seus cabelos

pegariam fogo, lá do outro lado, na sombra; ouviria o mar,

que a faria lembrar-se de Caetano, exílio e caracóis.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Retorno.


E aqui eu fiquei.

Com os pontos e sem os is.

Uma coleção de pequenos nós.

De pequenos fiapos soltos.

Ouvindo essa música melâncolica,

e gostando...

O olhar fixo na poeira densa,

que o sol ilumina.

Imaginando meios e fins

para uma estação intermediária.

Nas sacadas, luzes perfiladas

coloriam qualquer coisa; até

os passos apressados do mundo inteiro!

Tudo gira definitivamente.

Ainda hoje, e sempre.

Nossa maior glória; dar voltas sobre

nós mesmos.