Acho que cheguei na página final.
Não consigo ler as anteriores, nem escrever às próximas.
Sigo um bando de andorinhas com o olhar, linha torta.
O céu está mais cinza e denso, pesado como chumbo!
Tento ver desenhos nas nuvens, como criança pequena...
Ou como um adulto que enxerga.
Mas no momento, não vejo muita coisa.
Talvez esteja vendo apenas essa cicatriz funda em minha barriga;
meu umbigo.
Ferida que não cicatriza.
Talvez nesse momento tenha me colocado no centro do mundo.
E não consiga enxergar outra dor, que não seja a minha.
Viajo num ónibus fechado e escuro, o ar pestilento, sem janelas abertas.
Sem vento.
Por isso morro.
Sufoco.
Sem paisagens, sem retrovisor.
O que passou fica.
E como fica!
A frente, aquilo que me espera.
Ou talvez o que me desespera.
O afã de querer ver todas as coisas.
Sentir todos os perfumes.
Tocar...Com todos os sentidos!
Fazer a vida ter sentido!
Continuo no ónibus que me leva.
Já nem mais sei se alguém me espera.
Acho que não.
Apenas raios de sol tímidos em um dia nublado!
Apenas odores se esvaindo no ar!
A minha passagem é silenciosa.
Idoso sentado na praça.
Cão uivando pra lua.
Bordados na roca.
Simplesmente a vida vive, e não tem tempo de se dar conta de mim.
Continuo em volta de meu umbigo, minha cicatriz eterna.
Perene como o tempo.
Estou em meu ónibus escuro.
Sem vento.
Por isso morro; pouco a pouco!
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