sexta-feira, 20 de julho de 2007

Desassossego


Olho para a árvore de flores exóticas.

Como se fossem borboletas pousadas em sua copa.

Olho para além da árvore.

Montanhas vazias.

A dor na cavidade do peito.

Olho para a casa arrumada, roupa lavada, criança dormindo.

Olho para dentro de mim.

Onde estou eu? Para onde me falta ir? Ao irreal?

Ao absurdo desse desassossego.

Como eu queria ser e não ser sem jamais ter que responder a questão!

Olho para todas as coisas que eu não fiz, e enfiei em um buraco qualquer.

Arestas aparadas guardadas em malas secretas, que não querem mais ficar em cofres. A dor na cavidade do peito, eclodindo, lançando suas lavas incandescentes, queimando até as cinzas todo meu continente!

Gritando, pedindo, implorando pra sair, para esvaziar as represas!

Coisas sem terminar, inícios sem fim.

Olhe pra mim! Essa angustia infinita!

Sou eu na sala, na cozinha, na janela, na árvore, na montanha, na cavidade do peito...

Inexoralmente querendo viver!

Não sei ler olhares...


...Eu não sou daqui.

Nasci da junção de um vagabundo com uma dama, cheguei ao mundo

no mês final; não sou aquário, sou sagitário.

Tenho lirismo embutido, digo no traço, não faço sala.

Sou do fogo e queimo.Sou só, não nego, faço silêncios que não se calam.

Tenho sempre a sensação que já estive aqui outrora, e minha imagem no espelho me provoca inquietação; o mistério me fascina, e sempre olho atrás das

cortinas. O astro que me guia, foi expulso do sistema; por isso não me ilumina; confunde. E as tormentas me provocam.

Não sei se escolhi o caminho do mal, pois não sei o que é o bem!

Não sei ler olhares nem expressões, por isso o que procuro pode ser minha perdição. Não tenho lema e não quero ser tema.

Tentei fazer poemas.Não poemas com rimas.

Quero a total falta de simetria que me acompanhou até agora, quero as imagens distorcidas daquilo que eu nunca vi, e a demência da minha própria loucura.

A vida habita a ponta dos meus dedos, minha cabeça transborda e meu cérebro

se afoga.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Estalo.


Estalo.

Não sei se calo, ou falo.

Andei por entre a campina fechada,

o mato me encobria, eu nem existia!

Andei com braços abertos e olhos fechados.

Sangrei um pouco, arranhões na pele, derme, epiderme.

A dor era boa, era como voltar a sentir, ressuscitar.

Estalo.

Pisei em folhas secas, secas ao sol!

Bicho dissecado!

Qual foi meu pecado?

Qual a cor do sol ao se pôr?

Qual a cor da noite ao cair, na bruma...

Qual a cor da dor, do amargor, qual seu sabor?

Dormi num casa sem teto, e estrelas me vigiavam;

dançavam no céu, balé noturno!

Era um sonho, sonhei que era a noite, e não quis acordar!

Mas raiou a manhã; continuei meu caminho na campina,

no fulgor dourado do dia que me empurrava, continuo sangrando.

Hemodiálise de vida, transplante de sensações; não tenho medo

de nada, o nada sou eu, bendito vazio!

Renasci; cinzas que deixaram escrita a minha história!


sexta-feira, 6 de julho de 2007

Retinas.


...Porque tudo que eu sinto é maior do que tudo que eu falo.

Porque o que quer que eu fale, é menor do que tudo que vejo!

Porque tudo o que vejo, não é nada.

Estreitas retinas!

Comparado à tudo que enxergo.

Porque o que anseio é ínfimo diante de meus sonhos.

Porque tudo que sonho é diáfano, e se altera toda noite.

Porque todo dia busco encontrar o que procuro,

e procuro todo dia o que busco.

E se acho me perco, e se perco me acho.

Porque toda noite é uma imensidão!

E toda imensidão é céu e mar.

E se rio, choro.

E se choro, sorrio.

Não rio só, rio indo pro mar, pra se completar!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Dislexia.


Metafisicamente.

Metal.

Metafóricamente.

Pleonasmos de vida.

Sinestesia de sentidos.

Olhos, boca, ouvido.

Não somente a fome consome!

Vejo montanhas!

Há muito tempo estão ali; quietas e silenciosas.

Paradas no lapso temporal, atemporal.

Como um sorriso num quadro.

Monalisa perdida.

Sempre se escondem segredos; o medo.

Vejo estradas, entroncamentos; muros de cimento.

Paisagem vermelha, como um sol se apagando em brasas.

Na viagem, talvez voragem, flores nascerão do bem e do mal,

Baudelairamente coloridas em dores e cores, perfumes e sentidos,

num caleidoscópio poético, anestésico para o olhar!

Anestésico pra os sentidos!

Em todos os sentidos.

domingo, 1 de julho de 2007

A Morte do Rei...


...Quando o dia se punha, pouco antes do rei sol ir dormir; o menino saiu à rua.

Cantarolava baixinho uma canção só sua, e carregava no ombro seu instrumento de ver espetáculos grátis.

No alto do morro que subia, parou sua bicicleta, magrela antiga, e olhou.

Onde quer que olhasse, ele sempre via, espectros fantásticos, poeira de ouro subindo, levitando no suave calor de inverno!Varal de roupa colorido, ou atalhos em preto e branco, coisas incertas que ora existiam e ora se esvaíam.

O menino pensava na beleza visível das coisas rotineiras, e por isso mesmo sempre invisível à quase todos, mas guardava tudo que via, fotografia! E pensava na grafia das coisas escondidas, ou quase...ele lia, ele sabia.

Por isso no começo do crepúsculo sempre corria, e era tão normal, ver a beleza se escondendo, ofuscando, gritante em seu silêncio, e ele sozinho via, guardava, condensava na retina, lente de aumento!

Tudo ali, todas as cores do mundo, não era difícil ver, mas tinha que ser um pouco antes, antes do sol se pôr e escrever seu poema, soneto de todo dia, melâncolica harmonia de um rei morto e renascido todo dia!
Fotos by
http://www.flickr.com/photos/meinframer/