domingo, 30 de dezembro de 2007

O teu riso.

...Esse não é um poema meu, rsrsrs, logo verão!

Mas o postarei aqui por acha-l0 de uma beleza absoluta e simples, absoluto e simples como Neruda.



Tira-me o pão, se quiseres,tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.Não me tires a rosa,a lança que desfolhas,a água que de súbito brota da tua alegria,a repentina onda de prata que em ti nasce.A minha luta é dura e regresso com os olhos cansados às vezes por ver que a terra não muda,mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me e abre-me todas as portas da vida.Meu amor, nos momentos mais escuros solta o teu riso e se de súbito vires que o meu sangue mancha as pedras da rua,ri, porque o teu riso será para as minhas mãos como uma espada fresca.À beira do mar, no outono,teu riso deve erguer sua cascata de espuma,e na primavera, amor,quero teu riso como a flor que esperava,a flor azul, a rosada minha pátria sonora.Ri-te da noite,do dia, da lua,ri-te das ruas tortas da ilha,ri-te deste grosseiro rapaz que te ama,mas quando abro os olhos e os fecho,quando meus passos vão,quando voltam meus passos,nega-me o pão, o ar,a luz, a primavera,mas nunca o teu riso,porque então morreria.Pablo Neruda

domingo, 16 de dezembro de 2007

Sensibilidade!


...Durante oito anos de minha vida, fiz um viagem diária, uma viagem pequena; quinze quilômetros entre duas pequenas cidades.
Por muitos anos a estrada foi de terra, esburracada, e em vários dias dos meses chuvosos, dávamos voltas por outras bandas e povoados, chegava-se tarde em casa.
Na verdade nunca me importei muito, exceto pelo cansaço de alguns dias...
Em oito anos, eu nunca me cansei de olhar pela janela do ônibus; fosse dia chuva, fosse dia sol. acho que é uma hábito de mineiro!
E todos os dias sempre via coisas novas, coisas que não vira no dia anterior; fosse uma garça, um ipê florindo, uma árvore de formato diferente, uma pequena lagoa que transbordou, infinitos pôres de sol de todas as cores imaginárias! Uma sariema certa vez, eucalipital longinquo, com o sol se derramando atrás; coisas que eram normais, mas eu sempre via, perseguia a linha da janela em cada quilômetro!
A foto acima, faz parte da estrada.
È um pequeno povoado que se aglomera dos lados da estrada; a foto é o ínicio da Moitinha; a esquerda de quem vem, a direita de quem vai (????)!
È uma casa pequena, um curral meio que caído, um quintal, como todo quintal de roça.
No dia em que vi essa foto ( verbo olhar), me deu vontade de chorar; pela tamanha beleza expressa nela, por esse céu atormetado, como fotografia de filme de Bergmam.
Como o céu de "O Morro dos Ventos Uivantes", quando do útimo e atormentado encontro de Redicliffe e Katy.
Passo ali todo dia, e todo dia meus olhos se enchem de água, por lembrar da fotografia, da magia do olhar, da simplicidade em se captar coisas tão únicas...ela me atormenta, mas juro, posso viver muito tempo ainda, e acho que não acharei nada que me comova tanto!
A foto é de um amigo, chama-se Gabriel.
Não pedi autorização para usa-la aqui, mas ao menos avisei que escreveria sobre ela.
Tenho que agradece-lo; o olhar é mesmo insano Gabriel! Ainda bem...!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A janela.


Sabe aquela moça que abria a janela?
Ela sempre sorria!
Mesmo que não fosse bom o dia.
Mesmo se chovia, e a água escorria...
Era seu dia preferido!
Sabe aquela moça que abria a cortina?
Descortinava o dia.
Mesmo nublado e abafado.
Ela sempre sorria.
Aquela moça de longos cabelos alados...
Que sempre via o que se estava escondido!
Que sempre escondia o que via!
Guardava no olhar, pra depois revelar...
Ela acreditava sempre em alguma coisa boa.
Ela acreditava que sempre sorriria.
Mas a vida, um dia, apareceu sombria.
A moça queria sorrir, mas não conseguia,
e seu peito se debatia, sofria...
Mas ela continuou abrindo a janela, todo dia esperando...
Fosse sol ou chuva que viria, ela sabia;
a beleza existia.
Na clara claridade do sol, nas gotas enevoadas da chuva;
quando tudo era cor!
Então a moça abriu a janela e descobriu:
A janela era ela!

sábado, 3 de novembro de 2007

Pimenta.


...Lá fora o vento uivava.

E eu só pensava, em que mesmo?

Em nada.

Pensava em como eu era chata às vezes.

Emo, psicodélica, vazia, sombria...

Pensava em um amigo que mudou-se.

Foi desembolorar-se em algum lugar perto do mar.

Sentir a maresia.

Deixar de ser mineiro embolorado, pão de queijo dormido.

Opa, nada contra; estou apenas citando frases; mesmo porque não existe alguém tão mineiro quanto eu.Introspecto, calado, viciado em montanhas, intimista como canções mineiras!

Mas não falava disso; pensava em meu amigo, que mudou para perto do mar.

Ele escreve. E bem.

Postarei algo dele aqui qualquer dia desses...

Ele é meio amargo e azedo, coisa de mineiro emborolado!

Meio sociopata, muito seletivo, e cozinha muito bem!

Acho que vai se dar bem, não ficará mais entre escombros, lambendos feridas!

Conseguiu alcançar o ônibus à tempo. E como disse o próprio:


"Descobri que o mundo é pequeno pra mim, pois minha casa é meu corpo"


Vai Pimenta, arder na vida, dar sabor às ondas do mar!

Não esqueça o violão, partituras, o cacto, seus óculos, e a caneca de café da sorte!


O mundo é pequeno, um moínho.

A vida ensina , eu aprendo.

Te deixo solto, não te prendo!

sábado, 27 de outubro de 2007

Janelas.


...Vejo.

Através dessa janela

Suave cortinas

retinas.

O passar da vida.

Vigia.

Como numa cela

clausura.

O balançar das folhas

como um assopro

assobio.

Cabelo arrepia
como um beijo na nuca...
Vejo
através dessa janela
manhã sombria
Vejo.
Através da alma transparente;
que canta.
Para ela não existe cela, clausura!
Por isso canta.
Não sabe de mim!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Decompondo-se...




Abro os braços no espaço,
Membros soltos, oscilando ao sol.
Abro o espaço com os braços,
Solto o sol oscila.
Vejo; com olhos que não são meus,
Sinto na retina o sabor do vento,
Oscilo ao vento, conto o tempo.
Pouco falta para o mergulho final,
Sinto a música no limbo do meu ouvido.
Sonatas, acordes, concertos atemporais!
Desfaço-me ao som.
Desfaço-me como terra queimada pela lava.
Queimaduras profundas!
O que resta, oscila.
O que nasce; permanece!

Promessa.

Ela gosta de gato
ela gosta de cão
ela gosta de mato.


Ela disse que viria.
Adivinha!
Tão séria.
Disse : "Eu vou."
Como quem diz; vou ao mercado.


Ela mora tão longe!
Se esconde.
Mas sempre a acho, caço.
Conheço suas omoplatas.


Num dia, depois de uma noite de chuva;
eu a encontrarei.
No mato, na serra.
Nua em pêlo.
Molhada em gotas.
Eu sei.


Mas, ela mora tão longe!
Não sei como virá.
Mas sei que virá.
È suficiente, suportável, sufocante.


Ela, que gosta de mato,
que gosta de vento,
passará rajada por mim.
Silenciosa...


Por isso espero.
Ela disse que vinha.
E adivinha?
Acreditei.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Inocência?


...Quando eu era criança queria ser vento.

Apanhava todo dia; porque me emaranhava pelo mato e voltava sempre com o vestido rasgado:
"-Não o xadrezinho de azul e branco!Até detalhes de croché fiz nas alças!"

E lá ia-se o xadrezinho rasgado de lado. Mas no outro dia, era outro dia, e outro vestido também.

Ah, porque as cidades crescem e desaparecem seus córregos, minas, grotas, eucalipitais...Porque desaparecem cipós que nos faziam voar sobre folhas secas!

Pouco importava a surra ao chegar em casa; o que valia aquilo pra alguém que voava?Pouco importava joelhos ralados, cabelo cheio de cisco, e o fundo da conga rasgado ao meio, fazendo com o pé melasse de suor! Pouco importava a estranheza:
"-Essa menina é Maria-João!"

"-Onde já se viu brincar de pulador?"

"-Me conta, não têm nessa cidade mais nenhuma menina que tenha carrinho de rolimã!" Que estranha!

"-Seu Waldivino, sua filha está aí?"

"-Está. O que foi dessa vez?"

"-Bem, de novo o viveiro está aberto, e todas as gaiolas também!"

"-Hum."

Pobre criança, que não sabia que pássaros presos, não conseguem mais sobreviver em liberdade!

Quando eu era criança queria ser vento, queria voar.

Queria até morrer em nome de uma boa causa! E chorava toda vez que via uma cão ou gato morrer atropelado, quanto sofrimento!

Mas eu voava, sempre voei, fosse em cipós sobre folhas secas, fossem em balanços de pneus, ou fosse apenas fechando os olhos, ou sendo embargada pelo vento...filosofia de criança!

Ainda quero ser vento; espero que ainda dê tempo.

domingo, 2 de setembro de 2007

Sumertime.

...Ainda é muito cedo.
E continua incrivelmente nublado e frio.
No rádio está tocando uma música antiga do Raul, que me provoca saudades de alguma coisa que eu nem sei o que é. A música diz que um trem vem de algum, e não se pode atrasar para pega-lo, e ainda pergunta quem vai chorar, quem vai sorrir...
Tem umas formigas andando pelos tacos gastos do quarto, caçando restos de pão. Não tenho nada pra fazer, pois hoje é domingo, e em qualquer lugar não faz a mínima diferença.
Esse lugar é muito quieto, a gente se sente no fim do mundo, ou no fim da gente mesmo, que no fundo dá no mesmo. Não têm barulho de carros, somente câes e cabras pastando solenes no pasto...Nessa casa, tem grades nas janelas, nas portas, e os portões são enormes para que não se haja meio de fuga.
Daqui só se foge o espírito.Vai para além da BR, para além de tudo, para além mar, além nada.
Agora arrebenta o coração e a alma no dial, Janis porque você é tão cruel?
Sumertime!
Sim, é tempo de verão, mesmo aqui tão distante das capitais.

Raio x.

Perfil.Engraçada essa palavra.
Usada para nos descrever.
Mas na fotografia é quando estamos de lado...
Talvez pra que não se mostre tudo.
Deixar a emoção de lado!
Disfarçar a falta ou o excesso de conteúdo.
Esconder, mesmo que parcialmente os olhos;
espelhos da alma, do corpo, boca muda!
Perfil...
Pra que se mostre o que você gosta.
Pra descobrir o que você ainda não sabe que gosta.
Pra disfarçar...
Pra realçar detalhes e esconder nuançes.
Perfil, pra se ver de lado...
Sem lado certo, nem lado errado!
Pra se mostrar contente, e esconder o que a alma sente.
Perfilar, sem olhar; criar seu tema...
Meu perfil?
Gosto de fazer poemas.
Gosto de imensidãos pequenas, abraços grandes...
Gosto de mãos, e talvez um pouco de solidão.
Talvez minta e você nem sinta!
Normal, pra te surpreender no final.
Hoje assim, amanhã quem sabe?
Continuarei de lado, perfil inacabado.
Traçado todo dia.
Dia dor, dia alegria.
Dia e noite, noite e dia.
Busco, procuro, almejo.
Cada dia um desejo.
Talvez minta e você nem sinta!
Normal, pra te surpreender no final.

Cúmplice.

...Achei que a vida ria de mim.
Desde quando nasci, ela se apresentou assim;
esquisita, estranha e louca!
Como se nua, tirasse a roupa.

Panorâmica.

Eu...
Minto, quando digo o que sinto.
Sinto.Mas na verdade minto.
Sob asas de borboleta...
Sob asas de anjo...
A minha estrada é difusa!
Tem bifurcações confusas!
E até sua cor é diferente.
Me vêem como querem, ser impertinente.

Ser totalmente ao avesso.
Olho a vida dislexa, e a paixão sempre me cega.
A paixão de ser e estar em todo lugar!
A paixão de me expor, mesmo que aja dor!
A paixão de me encontrar e sempre me perder!
A infinita paixão de ser...
E enxergar.
Sobre ombros, sobre muros, entre olhares furtivos...
Sobre todos os vales e montanhas do mundo; sou eu em um segundo.

sábado, 25 de agosto de 2007

Percepção.


...Fogo no mato

rastro

areia movediça

chão que afunda...

Abro e fecho portas.

Comportas.

Fogo no chão, mato movediço.

Abro e fecho comportas.

Porta!

Percepção.

Pé sem chão.

Abro e fecho a porta;

Imaginação!

Mergulho...

Mergulho...
ao fundo
busco o ar
à tona
urgência.
È preciso respirar
sentir o ar
o peso
inalar...
boiar
sem peso.
Mergulho...
Orgasmo
conjunção
pleonasmo.
Voar
contra o ar
ventar...
Mergulho...
urgência
respirar...

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Vista...


A janela se abria

dela se via

tantas estradas

liberdade tardia

tantos caminhos...

O pássaro preso na gaiola vazia

a brisa entrava e saía

O vento preso no continente

uivava, clamava...

O dia que viria

Aves que partiam

o céu escuro se abria

monotonia...

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Desassossego


Olho para a árvore de flores exóticas.

Como se fossem borboletas pousadas em sua copa.

Olho para além da árvore.

Montanhas vazias.

A dor na cavidade do peito.

Olho para a casa arrumada, roupa lavada, criança dormindo.

Olho para dentro de mim.

Onde estou eu? Para onde me falta ir? Ao irreal?

Ao absurdo desse desassossego.

Como eu queria ser e não ser sem jamais ter que responder a questão!

Olho para todas as coisas que eu não fiz, e enfiei em um buraco qualquer.

Arestas aparadas guardadas em malas secretas, que não querem mais ficar em cofres. A dor na cavidade do peito, eclodindo, lançando suas lavas incandescentes, queimando até as cinzas todo meu continente!

Gritando, pedindo, implorando pra sair, para esvaziar as represas!

Coisas sem terminar, inícios sem fim.

Olhe pra mim! Essa angustia infinita!

Sou eu na sala, na cozinha, na janela, na árvore, na montanha, na cavidade do peito...

Inexoralmente querendo viver!

Não sei ler olhares...


...Eu não sou daqui.

Nasci da junção de um vagabundo com uma dama, cheguei ao mundo

no mês final; não sou aquário, sou sagitário.

Tenho lirismo embutido, digo no traço, não faço sala.

Sou do fogo e queimo.Sou só, não nego, faço silêncios que não se calam.

Tenho sempre a sensação que já estive aqui outrora, e minha imagem no espelho me provoca inquietação; o mistério me fascina, e sempre olho atrás das

cortinas. O astro que me guia, foi expulso do sistema; por isso não me ilumina; confunde. E as tormentas me provocam.

Não sei se escolhi o caminho do mal, pois não sei o que é o bem!

Não sei ler olhares nem expressões, por isso o que procuro pode ser minha perdição. Não tenho lema e não quero ser tema.

Tentei fazer poemas.Não poemas com rimas.

Quero a total falta de simetria que me acompanhou até agora, quero as imagens distorcidas daquilo que eu nunca vi, e a demência da minha própria loucura.

A vida habita a ponta dos meus dedos, minha cabeça transborda e meu cérebro

se afoga.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Estalo.


Estalo.

Não sei se calo, ou falo.

Andei por entre a campina fechada,

o mato me encobria, eu nem existia!

Andei com braços abertos e olhos fechados.

Sangrei um pouco, arranhões na pele, derme, epiderme.

A dor era boa, era como voltar a sentir, ressuscitar.

Estalo.

Pisei em folhas secas, secas ao sol!

Bicho dissecado!

Qual foi meu pecado?

Qual a cor do sol ao se pôr?

Qual a cor da noite ao cair, na bruma...

Qual a cor da dor, do amargor, qual seu sabor?

Dormi num casa sem teto, e estrelas me vigiavam;

dançavam no céu, balé noturno!

Era um sonho, sonhei que era a noite, e não quis acordar!

Mas raiou a manhã; continuei meu caminho na campina,

no fulgor dourado do dia que me empurrava, continuo sangrando.

Hemodiálise de vida, transplante de sensações; não tenho medo

de nada, o nada sou eu, bendito vazio!

Renasci; cinzas que deixaram escrita a minha história!


sexta-feira, 6 de julho de 2007

Retinas.


...Porque tudo que eu sinto é maior do que tudo que eu falo.

Porque o que quer que eu fale, é menor do que tudo que vejo!

Porque tudo o que vejo, não é nada.

Estreitas retinas!

Comparado à tudo que enxergo.

Porque o que anseio é ínfimo diante de meus sonhos.

Porque tudo que sonho é diáfano, e se altera toda noite.

Porque todo dia busco encontrar o que procuro,

e procuro todo dia o que busco.

E se acho me perco, e se perco me acho.

Porque toda noite é uma imensidão!

E toda imensidão é céu e mar.

E se rio, choro.

E se choro, sorrio.

Não rio só, rio indo pro mar, pra se completar!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Dislexia.


Metafisicamente.

Metal.

Metafóricamente.

Pleonasmos de vida.

Sinestesia de sentidos.

Olhos, boca, ouvido.

Não somente a fome consome!

Vejo montanhas!

Há muito tempo estão ali; quietas e silenciosas.

Paradas no lapso temporal, atemporal.

Como um sorriso num quadro.

Monalisa perdida.

Sempre se escondem segredos; o medo.

Vejo estradas, entroncamentos; muros de cimento.

Paisagem vermelha, como um sol se apagando em brasas.

Na viagem, talvez voragem, flores nascerão do bem e do mal,

Baudelairamente coloridas em dores e cores, perfumes e sentidos,

num caleidoscópio poético, anestésico para o olhar!

Anestésico pra os sentidos!

Em todos os sentidos.

domingo, 1 de julho de 2007

A Morte do Rei...


...Quando o dia se punha, pouco antes do rei sol ir dormir; o menino saiu à rua.

Cantarolava baixinho uma canção só sua, e carregava no ombro seu instrumento de ver espetáculos grátis.

No alto do morro que subia, parou sua bicicleta, magrela antiga, e olhou.

Onde quer que olhasse, ele sempre via, espectros fantásticos, poeira de ouro subindo, levitando no suave calor de inverno!Varal de roupa colorido, ou atalhos em preto e branco, coisas incertas que ora existiam e ora se esvaíam.

O menino pensava na beleza visível das coisas rotineiras, e por isso mesmo sempre invisível à quase todos, mas guardava tudo que via, fotografia! E pensava na grafia das coisas escondidas, ou quase...ele lia, ele sabia.

Por isso no começo do crepúsculo sempre corria, e era tão normal, ver a beleza se escondendo, ofuscando, gritante em seu silêncio, e ele sozinho via, guardava, condensava na retina, lente de aumento!

Tudo ali, todas as cores do mundo, não era difícil ver, mas tinha que ser um pouco antes, antes do sol se pôr e escrever seu poema, soneto de todo dia, melâncolica harmonia de um rei morto e renascido todo dia!
Fotos by
http://www.flickr.com/photos/meinframer/

domingo, 24 de junho de 2007

Fim...


...Porque mais uma vez é noite.E passou-se o dia e nem reparei sua luz.

Porque esperei respostas para perguntas simples, mas nem sequer ouviu-se a voz.Porque não tenho mais lado pra olhar, por isso sigo reto.

Porque mais um dia a solidão veio e ficou como o ombro que me segura, como o braço que me abraça e como a boca que me beija.Porque nada sinto, a não ser essa apatia letárgica que me bloqueia a mente e os músculos.Porque não tenho momento, porque não sinto tormento, porque a água é sempre fria!

Porque não ouço sons que vem de fora, e de dentro de mim soam sonatas e acordes, cordas estendidas. como um tenso violino.Porque o caminho está aberto, porque o destino, sempre certo; embora incerto!Porque andorinhas voam sobre mim, mostrando o caminho; o fim do fim, e nem consigo chorar; lágrimas porque?Porque a música toca, o verso recita, o fogo crepita, lareira tumular!

Porque não senti o vento; e essa foi a minha hora mais triste!

Porque nada é para sempre, e o sempre são segundos em qualquer canto do mundo, mundo real ou paralelo.Lágrimas porque?Sal seco na face.

Face a face sem porque!
Foto by Wellington Medeiros.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Sem título...


A flor floresce no estrume.
A dor nasce e não morre.
Vê-se melhor do cume.
O longo caminho escarpado.
O longo caminho.
Contei passos atoa.
Enumerei erros, pecados, tanta coisa...
Vi passar a vida como um estouro de boiada;
Sob a poeira.
Inventei inventos novos.
Comprei um coração.
Paguei pouco, ele nada valia.
Me enganava, me traía.
À cada dia.
Inventou sua dor, como um poeta em desatino.
E apenas nisso acreditava.
Um fingidor.
Acreditou tanto, que sentia a sua dor.E como doía!
Faliu sua condição, maluco.
Nunca mais acredito em nada.

Apanho, apanho todo dia.
Faço versos que exalam; neles faltam poesia!
È minha sina, a dor que eu finjo.

Aberta como uma janela numa casa abandonada!
Batida pelo vento, coberta de poeira, eterno lamento.
Foto by André Oliveira.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Elemento eu.


...E eu que jurei ser estrela, estrela do dia, elemento.

Pendurei em meu varal ideias e pensamentos, balançados pelo vento!



E eu que jurei ser sol, sol da meia-noite, elemento.

Construí meu castelo com areia e não cimento!



E eu que jurei ser dia. Dia.

Palavra cheia, perduradas em horas;

24 horas vazias!



E eu que jurei ser noite.Noite.

Palavra escura, perduradas em horas,

estreladas em cometas, perdidos na aurora!



E eu que jurei ter sentido.

Descobri-me sem sentido, descobri que sentir;

são muitos sentidos!



E em minha cruel intensidade; extremada palavra, maldade!

Descobri-me elemento, noite, dia, sol, cometa , areia, cimento!

Só não descobri que a dor não deixa de existir.

Ora vem , ora deixa de vir, ora aflora, ora chora!

Mas sempre está, nunca vai embora!



Porque sentir é uma dor que faz hora!

Mas não sentir é morto estar vivo; é como não matizar cores,

sorver sabores; é não viver segundos e com isso deixar de ver o mundo!



Eu sempre olho nos olhos.

Porque tenho medo de perder o momento, o instante, o efémero eterno!

Eu sempre olho, porque olhar é um sentido; e eu quero todos guardados em

meu olhar, em meus poros, nos fios dos meus cabelos, na tinta de minha retina.

Para que quando o vento ventar; eu possa me espalhar, num redemoinho, elemento sozinho...

Pode estar certo, passarei em seu caminho!

quinta-feira, 24 de maio de 2007

A causa e o efeito.


O homem tomou no gargalo.

Sorveu até o talo.

Caiu na sarjeta, entre copinhos de sorvete e maços de cigarros.



Espumou pela boca.

Bafo de Sonrisal;

e os pés inchados, não tinham chinelos!



Para tal feito, saíra de casa pela matina.

Apagou o abajur, digo lamparina!

Olhou as crianças no leito, catre seria mais direito.

E foi-se sovado e digno.



Mas na tarde finda, a dignidade se foi,

também foi-se o sovado ( o pão).

Não restou nada, miserentos centavos.

A sarjeta virou cama, irmanou-se aos demais!

Lembrou-se da mulher na casinha, dos filhos, na vizinha...

Cobertor esfarrapado, e aquilo que ela usava não era uma calcinha!


Por isso, verteu no gargalo, entornou até o talo.

Espumou.

Virou-se de lado, aconchegado ao meio fio,

e sorrindo com a boca em derrame, sonhou!

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Em mim vêem o que querem...e conseguem!


...Em mim vêem o que querem.

O que não sou, e o que gostariam que eu fosse.

Vêem atalhos para estradas que não escolhi, e estradas que não passam por mim!

Vêem pleonasmos, delicadezas, sutilezas.

Vêem sempre o que gostariam de ver em si próprios.

Em mim vêem o que querem.

Armadura, fortaleza, desdém.

Vêem com olhos distorcidos, com óculos escuros!

Me vêem como a louca da aldeia, a estranha de plantão!

Em mim vêem ouvidos pacientes e frases que apaziguam;

mas injetam-me seringas de ironia, desaferrolham meu ser, transformam meu espírito em coisa vadia!

E sempre tentam me transformar em nada.

Mas sempre se esquecem; que o nada é algo sem medida, sem tamanho, sem começo nem fim!

O nada é uma palavra não inventada, sem verbete, sem tradução...

Em mim vêem o que querem, e que conseguem:

Nada.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Silêncio...


...Eu ouvi o som do silêncio.

Claro, tinindo como um sino!

Por entre galhadas de árvores, por cima do capim cheiroso, na curva do rio.

Por entre ipês coloridos, por sobre a terra germinada.

Na água que caía abundante da cachoeira!

Eu ouvi o som do silêncio ao longe...

Na divisa da noite que caia, na tarde que morria!

Na brancura da lua e na cor brilhante das estrelas!

No olhar atento de um bicho, na poeira que subia...

Na chuva que de manso descia, na goteira, na porta que rangia!

Eu ouvi o som do silêncio em lábios calados, em bocas quietas, em corpos suados...
E era ensurdecedor!

Parabólica.


Eu corri atrás do impossível, como se fosse uma viável possibilidade!

Segui pleonasmos fantásticos, e vivi futuros perfeitos.

Tirei passaporte para viajar por todos os países escondidos em mapas imaginários.Faróis para possibilitar a fuga, escadas para elevar a mente; para que os pensamentos não fossem parcos, não fossem pequenos!

Ampliei a audição do cerne do meu ouvido para captar ruídos e sons, silêncios lunares...

Como uma imensa antena, abri meus braços para abraçar, cada átomo, cada partícula , cada sentimento emitido, nutrido e sentido pela humanidade!
,

Cena de cinema.


...No final da noite à mesa posta.

Poças de sangue no chão!

Corpos, espelhos, solidão!

Era uma festa; poucos vieram.

E os que vieram, beberam.

Longas taças tiniam.Falsa burguesia.

Fantasia.

Peças íntimas expostas.

No tabuleiro de xadrez, o último ato.

Mordaz, o rei ocupa, joga a rainha no chão!

Cavalo galopa, trota e faz troça, figura com as mãos!

Na parede sombras, erotismo, um filme de quinta.

A TV chia, desligada, vazia!

O quadro da parede, triste, sozinho no corredor, dias melhores já teve; quer tinta.

Ao longe, altíssima, a lua observa gélida.

Testemunha; cega, surda e muda!

Como tudo muda; na noite que parecia de festa, ouve uma festa vazia.

Agora em silêncio, sem orgia.

Os gemidos se foram, cessaram.

No tabuleiro de xadrez, o rei escarnecia, aranha tece a teia.

È noite.

A luz da aurora surge feroz, mas não têm voz.

Cai o silêncio outra vez, o dia começa como sempre se se fez, quadro pintado;

obra de arte!

Eclipse Lunar...


Dias normais, todos iguais.

A lua pendurada no céu, é a mesma há mil anos!

Ontem ruborizou-se.

Alinhou-se.

Terra, sol, lua.

Elementos.

Triângulo, mesmo que por pouco momentos!

Todos viram à cena no escuro...

Olho sempre a mesma coisa várias vezes; esperando a mudança:
Repentina, brusca, como se a sombra se movesse e o corpo ficasse para trás.

Anormal normalidade!

A lua se alinha; vermelha fica.

Cada estrela se agita em meio à orgia noturna.

Normalidade anormal.

Espaço celestial, imensidão!

Indiferente a tudo, a batalha se trava:

No espaço, sol e terra cobiçam a isca; ela embora envaidecida; esvaí-se.

Branca, leitosa, pendurada pela eternidade!

Feminista.

Sozinha, olha com olhos distantes o fim do duelo astral;

talvez no próximo solstício!

Terra, lua, sol, de novo a duelar entre estrelas apáticas e cometas perdidos!

Olhos a observar.

Inútil ultilidade...


...Disse-me alguém:

-"Não conheço nada mais supérfluo que a poesia"

-"O poeta é o supérfluo do supérfluo!"

Bem, todos os dias nos atiram pedras na alma.

Sim.E como é mesmo inútil a poesia!

O poeta que somente faz dar vazão ao seu tormento, ou à sua felicidade!

Poesia é coisa de atoas, bêbados, alienados, Bukovisks da vida...

Não vivem o real, se afogam em vícios marginais!

Diria um, (poeta): "O poeta não morreu foi ao inferno e voltou"...

Talvez tenha sido mais difícil voltar, mas ver as portas do Éden talvez tenha sido pior!

Sim, supérfluo e inútil a poesia; tão inútil e supérfluo como se nascer com um dedo a mais; tão inútil! Mais é seu, e não se desfaz dele, faz parte de sua anatomia!

Tão inútil como ver todo dia, o sol ferver a água do mar; enganador!

Tão inútil e supérfluo como ver, ouvir, tocar e nada sentir!

Direi ao meu amigo:

-O Poeta não é supérfluo; é necessário...

Ele engana a dor!

terça-feira, 15 de maio de 2007

A visão.


Acho que cheguei na página final.

Não consigo ler as anteriores, nem escrever às próximas.

Sigo um bando de andorinhas com o olhar, linha torta.

O céu está mais cinza e denso, pesado como chumbo!

Tento ver desenhos nas nuvens, como criança pequena...

Ou como um adulto que enxerga.

Mas no momento, não vejo muita coisa.

Talvez esteja vendo apenas essa cicatriz funda em minha barriga;

meu umbigo.

Ferida que não cicatriza.

Talvez nesse momento tenha me colocado no centro do mundo.

E não consiga enxergar outra dor, que não seja a minha.

Viajo num ónibus fechado e escuro, o ar pestilento, sem janelas abertas.

Sem vento.

Por isso morro.

Sufoco.

Sem paisagens, sem retrovisor.

O que passou fica.

E como fica!

A frente, aquilo que me espera.

Ou talvez o que me desespera.

O afã de querer ver todas as coisas.

Sentir todos os perfumes.

Tocar...Com todos os sentidos!

Fazer a vida ter sentido!

Continuo no ónibus que me leva.

Já nem mais sei se alguém me espera.

Acho que não.

Apenas raios de sol tímidos em um dia nublado!

Apenas odores se esvaindo no ar!

A minha passagem é silenciosa.

Idoso sentado na praça.

Cão uivando pra lua.

Bordados na roca.

Simplesmente a vida vive, e não tem tempo de se dar conta de mim.

Continuo em volta de meu umbigo, minha cicatriz eterna.

Perene como o tempo.

Estou em meu ónibus escuro.

Sem vento.

Por isso morro; pouco a pouco!




sexta-feira, 11 de maio de 2007

Reticências...




Continuo sendo o que sempre fui;

inexata, disforme, emaranhado vago.

Vago pela vida em busca.

Nunca finda.

Por diversas vezes cansei por não saber o que é

minha procura. E por outras apenas disfarcei o cansaço.

Desconsidere.

São palavras na noite.

Insônia.

Quando não usarei mais palavras?

Quando falarei por gestos e abraços?

Quando a palavra me deixará livre?

E não mais rasgarei papéis como uma caneta sem tinta?

Continuo sendo.

Ou talvez ainda não tenha forma para ser.

Continuo diluída, disforme, neblinada!

Algo a ser modelado.

Desconsidere.

Talvez seja a noite, o frio!

Continuo sendo.

Não posso desaparecer, estou aqui.

Procura.

Sobre pontes e sob o céu, vagueio.
Caminho na multidão, caminho só, na solidão.
Meu olhar espreita cada rosto, na luz do dia, ou
na difusa claridade lunar!
Procuro, talvez nem saiba quando encontrar!
Talvez nem reconheça o olhar!
E palavras ficarão perdidas no desencontro.
Perdidas no ar, captadas pelo espaço.
Sozinhos, eu e meu coração de aço!
Avanço a neblina.
Avanço a distância.
Avanço contra dia e noite;
eu e meu coração em açoite.
Escuridão silenciosa.
Com um paz pecaminosa, avanço,
eu e meu coração de criança!
Antena parabólica, capto.
Sob arranha-céus, sob estrelas perdidas;
avanço.
Eu e meu coração aflito!
Levemente sinto.
Desaparecem pessoas.
Praças vazias.
Silêncio gritante.
Chego, encontro, avanço!
Eu e meu coração figurante!
Cortina se fecha, espetáculo incendeia;
eu e meu coração relógio, ampulheta de areia...
Desfez-se na voragem.
Veio só.
Eu e meu coração selvagem!

domingo, 6 de maio de 2007

Trovinha.

Era um tempo ameno
de se pensar pequeno
e todo dia a janela se abria
odores, maresia...
E se dizia: Bom dia!


Era um tempo pequeno
de um calor ameno que
a tarde envolvia, chá na varanda
na calçada, ciranda!


Era um tempo modinha
de rapazes e mocinhas
bengalas e sobrinhas;
bambolês a afinar a cintura,
poucas doenças e muita cura!


Era um tempo delgado.
em espartilhos marcados
e beijo...? Que sonho!
Só depois de bem casado!


Era um tempo distante
raro como diamante,
de passear na pracinha
e sorvete na casquinha,
e embora, de bonde se ia.


Poesia existia
e suspiros se esvaiam,
quando por descuido,
ou ousado despudor;
a canela se via!


sábado, 5 de maio de 2007

She.

Eu sem você sou só.
Apartado, desunido, desligado.
Sou perdido, desviado.
Ovelha sem maê, rio sem água.
Verão sem calor, chuva sem frescor!
Sou poeta, faço rimas; sonetos de agonia, trocadilhos de dor.
O sol não me aquece, tão quente ele é.
Passos noites a corujar; esperando...
Sua volta, seu cheiro no ar, seu olhar que me renasce; mão, cabelo, boca e essa pinta singular.
Sorrio...
Meus olhos viram um rio, quase um mar!
Sou poeta diferente; faço trovas de alegria.
Pulo, rezo, faço orgia, rimo o que não têm rimar, sonho, devaneio...
Convido os pássaros à cantar...
Então pela manhã difusa, na sombra da sombra do dia,
vejo seus passos saindo, silenciosos; como se temessem me acordar:
-Veja não estou dormindo! Vigiei-te a noite inteira, e mesmo assim não fui capaz de te fazer ficar!
Sou poeta novamente, vate penitente; em vão esperarei seus passos voltarem.
Mão, cabelo, boca e essa pinta singular.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Meu nome é Vida.


...Que falta de graça se a vida não fosse tão irônica!
A vida, (ela), ri em nossa cara toda hora!
Dissimulada, dispersiva...
Escondida em subterfúgios.
Entrelinhas, sempre entrelinhas!
A vida não é sincera.
A vida não é clara.
A vida não é franca.
Se esconde entre segundos não falados, entre olhares não olhados, se esconde entre quase tocar e nunca tocar!
A vida passa por nós, com sua máscara risonha, como se dissesse:
-Viva! Aguente! Experimente!
-Onde está sua coragem audaz?
-Eu sou a vida.Mordaz.
-Não perdôo, não espero!
Tudo que espero de ti; é que faças o que tua mente alimenta, e esconde em neurõnios insones.
Eu sou a vida; o que você ganhou sem pedir, o que você perde à cada dia, pois nunca sabe, se é um dia a mais ou um dia a menos!
Sou a ferida do seu umbigo, que nunca cura; cicatriz pura!
Vivo em todo seu continente, em todo hemisfério do seu eu, sou ilhas, penínsulas distantes entre você e você !
E você passa por mim, e não me olha; enquanto eu te olho o tempo inteiro!
Te grito, ou sussurro em seus ouvidos.
Mas nunca me ouve, nunca ouve meu riso sarcástico!
Eu nunca rio pra você , mas sempre de você; de sua covardia, de sua escravidão!
Passado, presente, futuro!
Jamais terá sua carta de alforia!
Eu sou a vida.
Dona de sua dor, dona de seu sabor!
Não se esqueça (jamais), sou eu quem arquiteto as suas feridas!
Muito prazer: Meu nome é Vida!

terça-feira, 24 de abril de 2007

Encontro.

Foi por acaso...
Acasos acontecem.
Quando cruzamos ruas, atravessamos avenidas.
Quando deixamos para o amanhã, ou quando ansiosamente fazemos de hoje o amanhã!
Andavam pela praia, sentidos opostos.
O sol se pondo, fervendo ao longe, afogado na maré.
Maresia invadindo olfatos, vento salgando a pele,
impregnando...
Talvez não acontecesse, mas quis o destino incerto que acontecesse.
Passos incertos se encontraram; tímidos, confusos!
Na aridez da areia, na aridez da vida!
Fazendo surgir uma estrada algo colorida, algo alegre.
Deixando pegadas na areia, passos juntos, caminhos cruzados.
Quis o certo, o destino incerto...
Água molhava os pés, morna, quase quente...
Ao longe ainda o sol vigiava, quase se escondendo.
Querendo ver o final da cena...
Amantes no mar, por acaso.
Viravam agora versos de um poema!

domingo, 22 de abril de 2007

Apatia....


...Era domingo...
E realmente nem sabia porque acordara.
Estava frio e nublado e certamente mais tarde a precipitação pluviométrica viria, cair em total monotonia no telhado.
Sentou-se na cama, braços escorados nos joelhos, queixo nas mãos; profunda confusão!
Olhou para o quarto; seu quarto quase vazio; cheio somente de presenças infinitas...
Olfato sensibilizado!
Audição ligada!
Todos os sentidos alertados.
Para o nada.
Nada mais havia ali, além de fantasmas cansados!
Expectros falidos, ar carregado!
A dor de sentir que tudo se foi, e para sempre...
Edredom, travesseiro, e até o velho mosquiteiro, companheiro de solidão.
Dia sim , dia não, e o próximo não sabia !
E até a almofada no chão, dia claro ou escuridão!
Poeira.
O não sentir depois de sentir tanto!
Apatia.
Dor que seduzia.
Seus olhos doíam!
Porque o amor doí, e o querer destrói?
E o fim sempre corrói?
A alma se cansa da dor do corpo. e o corpo quer estar morto.
Pra não se sentir...
Perfumes idos...
Tela borrada de cores perdidas.
Desbotada pela chuva lá fora.
Amor que vai embora...
Outra vez a dor chora!
Até quando...?
Ontem, hoje, amanhã, agora!
Na parede o relógio bate:
"Sem hora, sem hora, sem hora...!"

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Interrogações infinitas...

...Eu não sei por que nasci.
Não sei minha missão no mundo, nem o destino que me espera antes da curva final.
Talvez por isso, tenha nascido errado; não foi minha cabeça que saíu primeiro, foi minha bunda, ou nádegas para não ofender a nenhum leitor.
Por certo relutei demais, porque já sabia pelo que passaria.
Sabia que desde muito cedo, estranharia a mim mesma.
E que por milhares de vezes, quando ainda criança, olharia minha imagem no espelho, como se o espelho não tivesse fundo, e via mil vezes a minha imagem, e perguntava:

-Quem é vcê?
Mas só o eco me respondia.
Porque sabia que teria mil perguntas a cada dia, e duas mil respostas para perguntas não feitas, e treis mil respostas que não me satisfariam.
Porque sabia que viveria olhando ao longe, vendo através do que tinha a frente, observando cada palavra dita pr boca alheia.
Como uma antena capitaria!
Porque sabia que quando entrasse numa livraria, seria como ir aos domingos numa sorveteria; eu os queria; não os sorvetes; os livros.
Escorregando de minhas mãos, derretendo no chão, sem saber escolher o sabor que leria.
Porque sabia que teria poucos amigos.
Àqueles que escolhemos como irmãos.
Àqueles que não nos olham estranhamente, como perguntando:
-Está esperando a nave?

Tenho alguns, poucos sim.
Mas são pessoas, e essa palavra é linda!
Aqueles que sempre perguntam:

-Como você está hoje?
Ou simplesmente sentam ao nosso lado, para que vejamos que estão ali.
Alguns doidos, alguns que pensam que são normais...
Sim, mas alguns eu tenho.
Não sei por que nasci.
Para encontrar algo que já está perdido?
Para crescer, ser mulher, usar vestido?
Para casar, ter filhos, ser maê, e sofrer a cada minuto ao olhar para meu rebento, temendo que ele se torne igual a mim?
Para ter sempre olhos que procuram e vagueiam à espera de algum sinal?
Para ter sempre que explicar a alguém que não se é triste, mas que também não se é feliz...Sou apenas vivente!
Ninguém entenderia!
Para ter prazer, ser hedonista?
Mesmo sabendo, sempre sabendo, que a vida é muito mais dor, do que qualquer outra coisa!

Talvez tenha nascido para isso; sempre questionar, sempre procurar, tentar não me amargurar.
Viver simplesmente.
Um dia após o outro; rindo, chorando, vendo a chuva...
Observar.
Para isso nasci!

Pontos de Vista.

Eu tenho mil faces diferentes.
E também mil almas diferentes.
Sou rogado, feliz, penitente...
E nunca se sabe se estou triste ou contente!

Eu tenho mil olhares diferentes.
Difusos, mareados, confusos...
E nunca se sabe, se o que olho,
é o alvo da minha vontade...
Ou apenas, uma reta, um atalho, um fuso!

Eu tenho mil seres que em mim habitam.
E não sei, se quem me comanda são eles;
ou se sou eu que os incita!

Eu tenho mil vontades diferentes.
Às vezes canto, às vezes danço...
Às vezes quero ser vento.
Sem dono, sem cor, sem sentimento!

E às vezes quero ser apenas eu.
Mas sofro; pois é difícil...
Pois sou faces, olhares, seres, vontades;
almas diferentes!

Encontro Marcado.


Encarei a morte.
E vi de relance seu decote!
Profundo em V.
Ironia.
V de vida.
V de vazia.
Quase a comprimentei; mas que tom usar?
Fúnebre, funesto?
Ou alegre como a voz de uma corista?
Talvez intimista.
Encarou-me ela.
À desdenhar-me.
Bocarra gigante.
Quer-me agora?
Leva-me num fulgor galopante.Sem tempo pra ver a vida passar!
Sem tempo de sentir o coração parar!
Sem tempo das retinas fechar!
Leva-me somente, quando ao chão eu tombar,
Sonatas de violino ecoar, meu corpo a alma abandonar...
Pronto estou, leva-me quando desejar!

Bom Dia!

Hoje, ao abrir a janela, a vida sorriu-me.
E era um sorriso claro!
Sorriso de céu azul.
Respirei profundamente.
O ar inflou meus pulmãos.
Virei fotossíntese.
Expeli carbono, suguei oxigênio.
Senti o silêncio, com os olhos fechados.
Tangente, partículas de som, dizimadas no espaço.
Espaço para plainar o corpo, libertar-se dos grilhões, do peso da alma obesa.
Flutuei.
Balão de gás.
Audaz.
Subindo até desaparecer no infinito.

domingo, 15 de abril de 2007

Benjamim.

Quando eu nasci, ouve um alinhamento planetário.
A lua apareceu mais alva, e todas as estrelas poliram seu brilho!O céu púrpuro abaixou-se, quase a tocar-me!
Mesmo assim relutei.Briguei.Engalfinhei-me com útero, ovários e trompas.Quase me afoguei, e por pouco não me enforquei em meu cordão umbilical!
Ainda assim nasci.Vim ao mundo.
Desarvorada, ao avesso, incrédula e raivosa.
Como se um anjo burro me guiasse, logo notei.
Não era um anjo culto, letrado, de alta hierarquia; devia estar apenas cobrindo a folga do meu.Com certeza não estava à trabalho; devia jogar truco e fumar cigarro sem filtro!
-Que fazes? Perguntei.
-Espero.
-O que esperas?
-Que vingues.Nasceu muito roxa, sem ar, quase morta!
-Querias o que?Pedi pra vir?
-Não o quero aqui.
-Cumpro ordens.
Disse apontando o polegar para cima.
-Mas, também não queria estar aqui.
-Ès burro, anjo?
-Não.Sou calado.
-Como é seu nome?
-Benjamim.
-Benjamim?Isso lá é nome de anjo?Anjos têm nomes com infinitas terminações em el!
-Sim.Mas sou Benjamim.
E seguiu-me assim pela vida.
Calado, sem direção, sem responder a nenhuma de minhas insondáveis questões.
Era eu que sempre lhe respondia às suas aflições de anjo, estranho par!
Queria comer pêra, nadar no mar, sentir o gosto do sangue, ser visível...
Não passara no teste pro elenco de "Asas do Desejo", de Wenders, sua grande tristeza!
Entendi-o.
-Benjamim?Gostas de mim?
-Parto estranho, vida estranha...
-Sim!

A Espera.

Talvez o tempo não tenha parado, mas o ar está carregado; odores, vapores...
O vento como sempre ronda à minha volta, na esperança que eu o veja, como gostaria!
Tantos segredos para contar-lhe!
Quantos segredos ele me contaria!
Oscilando entre as folhas como serpente, ele chega.
Imutável, silencioso; invade portas e janelas, frestas.
Cortina balança, cadenciada, voluptuosa se entrega!
Na espera...
Ouço o barulho do vento, diálogo mudo!
Amantes invisíveis, contidos.
Na imensidão do quintal, espero...
Todos os dias, agostos eternos.
Lábios trincados.Aguardo.
Silenciosamente, espero, e espero...
Que volte do mar, ou de qualquer lugar, que semeie aqui mudas de flores em mim!
Jasmim!