quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Dúbio!

Meu coração é um rio, que pensa que é o mar...
Por vezes salgado, inventa ondas...
Escuro e profundo, lambe a areia.
Reflete o luar... E volta e meia, na cheia,
Banha meu olhar!

Viagem...


...Eu passeei por entranhas.
Eram estranhas.
Diferentes na dor, mais similares na proporção.
Em cada ato, uma ação;
batida do coração.
Eu entrei em quartos que não eram meus;
e vi paisagens distintas, cheiro de tinta.
Figuras pintadas nas paredes, mogno polido.
Eu passeei por segredos e ruídos no ouvido.
O som do silêncio habitava os cómodos;
resquícios de lembranças...
Havia vida ali.
A saudade era tanta!
Musgos amarelavam-na.
Passeava por entranhas estranhas...
Ora ri, ora chora...
Mas sempre está; aflora!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Monólogo.


...O que quer de mim?
Carne?
Alma?
Aflição?
Se nada podes dar-me.
Se palavras aderiram-se às suas paredes;
elas não dizem nada.
Secaram minha raiz, deixaram-me por um triz!
Caminhei em via-sacra, quase calvário; mas caminhei.
Nem mais o açoite de seu olhar, em meu calado falar.
Nem mesmo o dia -noite, e as feridas no cerne do coração!
Nada podes dar-me.
E mesmo que queira, ainda que almeje; nada podes tirar-me!
Porque já não existo, fundi-me aos elementos;
tornei-me aço!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Bipolar...

Meio da metade, a face ao meio.
Desnorteio.
Se ao sul , o norte, o inverso contrareio.
Face a face, é que se vê o anseio.
Medo, que nome feio!
Bio, biodiversidade, muitas partidas ao meio.
Me diga você; que vive e se levanta, toma café e janta.
Como se vira, quando aperta a sua garganta?
Me diga, se o espanto te espanta?
Me diga, se o inferno te encanta?
No canto da parede, onde se pendura a rede.
Me diga você, se o inverno te encanta?
No frio da parede, onde o mofo se aloja.
Na bipolaridade de teus atos.
Automaticamente calçar seus sapatos.
Matematicamente, fazer suas contas.
Eu quero o batimento do orgão que te nutre,
e espalha o vermelho por suas artérias vermelhas e frias!
Aperte com a mão, é seu meu coração... Oco como um estômago vazio.

Sonatas.

Devo estar fugindo...
Soa, soa ao longe, barulho de sino.
Mas não ao meu ouvido;
são sonatas, acordes de violino!
Canções rameiras, na estrada de terra,
essa terra verde que me cerca.
Soa, soa ao longe...
No limbo de meu ouvido.
Farfalha a língua ao falar, falha.
Vejo montanhas de neve...
Vejo montanhas, onde eu possa descansar meu olhar.
È ilusão?
Não sei, me responda!
Ou esconda.
Hoje é apenas um dia antes de amanhã.
E amanhã é talvez, quem sabe...
O hoje ainda está aqui.
Eu o procurei no sorriso, na neblina do dia quando me levantei.
Eu olhei com a retina descoberta, olhei para o alvorecer, e que belo era!
Me deram palavras para que eu as transformasse.
Como se manipulasse odores, eu inventei alquimia.
Eu vi a lua no céu quando ninguém via.
O dragão existia, cuspiu fogo; mas não a tomava, apenas iludia...
Me deram palavras para que eu inventasse versos; não sou poeta, como faria?
Mas fiz, e saiu algo que por vezes inebria!
Coma a lua que só, sorria!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Abraço.


...Pouco importa o tempo, a estação
a solidão...
Pouco importa se não foram as palavras certas, aquele dia.
Se à cada dia que passa, eu penso mais em seu abraço! E penso em como eu talvez nunca te abrace.
Se tens milhares de braços...
Filas de abraços, esperando o seu.
Toda essa ilusão, não devem caber em seus braços.
E se cabem, devem se espalhar ,cair no chão!
E eu que quis apenas ser eu, mas meu eu assusta!
Porque nele não existe outra que não seja eu.
E assim passa o dia, passa a noite
passam sol e lua, e o silêncio outra vez.
Me sentei na borda do seu olhar, na curva do seu ombro,
e é difícil notar-me, se mal respiro, pra não te tirar da ilusão.
Porque em preto e branco, sei que é difícil seu dia...
e por mais abraços que tenha, não têm os braços
da rosa que desfollhada se foi!
Barco a vela no mar, sumindo, longe.
E sofro por seu sofrer, muito embora não deveria.
Mas aceito a condição, aceito a agonia.
Talvez um dia eu passe a morar em sua retina
pequenina, num cantinho ocular.
E me veja sem querer, e me abrace até sem ver
e descubra que ali é seu lugar, meio tardio,
mas ainda assim há tempo de meus braços te envolverem, e
te dar tranquilidade, água de rio doce, suave caminhada,
tardinha na chapada, talvez assim sua alma possa descansar , e seu braços, já não esperem tantos abraços, e encontre os meus.

Cantiga para não morrer...





Ferreira Gullart, para Vall Vento...