terça-feira, 24 de abril de 2007

Encontro.

Foi por acaso...
Acasos acontecem.
Quando cruzamos ruas, atravessamos avenidas.
Quando deixamos para o amanhã, ou quando ansiosamente fazemos de hoje o amanhã!
Andavam pela praia, sentidos opostos.
O sol se pondo, fervendo ao longe, afogado na maré.
Maresia invadindo olfatos, vento salgando a pele,
impregnando...
Talvez não acontecesse, mas quis o destino incerto que acontecesse.
Passos incertos se encontraram; tímidos, confusos!
Na aridez da areia, na aridez da vida!
Fazendo surgir uma estrada algo colorida, algo alegre.
Deixando pegadas na areia, passos juntos, caminhos cruzados.
Quis o certo, o destino incerto...
Água molhava os pés, morna, quase quente...
Ao longe ainda o sol vigiava, quase se escondendo.
Querendo ver o final da cena...
Amantes no mar, por acaso.
Viravam agora versos de um poema!

domingo, 22 de abril de 2007

Apatia....


...Era domingo...
E realmente nem sabia porque acordara.
Estava frio e nublado e certamente mais tarde a precipitação pluviométrica viria, cair em total monotonia no telhado.
Sentou-se na cama, braços escorados nos joelhos, queixo nas mãos; profunda confusão!
Olhou para o quarto; seu quarto quase vazio; cheio somente de presenças infinitas...
Olfato sensibilizado!
Audição ligada!
Todos os sentidos alertados.
Para o nada.
Nada mais havia ali, além de fantasmas cansados!
Expectros falidos, ar carregado!
A dor de sentir que tudo se foi, e para sempre...
Edredom, travesseiro, e até o velho mosquiteiro, companheiro de solidão.
Dia sim , dia não, e o próximo não sabia !
E até a almofada no chão, dia claro ou escuridão!
Poeira.
O não sentir depois de sentir tanto!
Apatia.
Dor que seduzia.
Seus olhos doíam!
Porque o amor doí, e o querer destrói?
E o fim sempre corrói?
A alma se cansa da dor do corpo. e o corpo quer estar morto.
Pra não se sentir...
Perfumes idos...
Tela borrada de cores perdidas.
Desbotada pela chuva lá fora.
Amor que vai embora...
Outra vez a dor chora!
Até quando...?
Ontem, hoje, amanhã, agora!
Na parede o relógio bate:
"Sem hora, sem hora, sem hora...!"

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Interrogações infinitas...

...Eu não sei por que nasci.
Não sei minha missão no mundo, nem o destino que me espera antes da curva final.
Talvez por isso, tenha nascido errado; não foi minha cabeça que saíu primeiro, foi minha bunda, ou nádegas para não ofender a nenhum leitor.
Por certo relutei demais, porque já sabia pelo que passaria.
Sabia que desde muito cedo, estranharia a mim mesma.
E que por milhares de vezes, quando ainda criança, olharia minha imagem no espelho, como se o espelho não tivesse fundo, e via mil vezes a minha imagem, e perguntava:

-Quem é vcê?
Mas só o eco me respondia.
Porque sabia que teria mil perguntas a cada dia, e duas mil respostas para perguntas não feitas, e treis mil respostas que não me satisfariam.
Porque sabia que viveria olhando ao longe, vendo através do que tinha a frente, observando cada palavra dita pr boca alheia.
Como uma antena capitaria!
Porque sabia que quando entrasse numa livraria, seria como ir aos domingos numa sorveteria; eu os queria; não os sorvetes; os livros.
Escorregando de minhas mãos, derretendo no chão, sem saber escolher o sabor que leria.
Porque sabia que teria poucos amigos.
Àqueles que escolhemos como irmãos.
Àqueles que não nos olham estranhamente, como perguntando:
-Está esperando a nave?

Tenho alguns, poucos sim.
Mas são pessoas, e essa palavra é linda!
Aqueles que sempre perguntam:

-Como você está hoje?
Ou simplesmente sentam ao nosso lado, para que vejamos que estão ali.
Alguns doidos, alguns que pensam que são normais...
Sim, mas alguns eu tenho.
Não sei por que nasci.
Para encontrar algo que já está perdido?
Para crescer, ser mulher, usar vestido?
Para casar, ter filhos, ser maê, e sofrer a cada minuto ao olhar para meu rebento, temendo que ele se torne igual a mim?
Para ter sempre olhos que procuram e vagueiam à espera de algum sinal?
Para ter sempre que explicar a alguém que não se é triste, mas que também não se é feliz...Sou apenas vivente!
Ninguém entenderia!
Para ter prazer, ser hedonista?
Mesmo sabendo, sempre sabendo, que a vida é muito mais dor, do que qualquer outra coisa!

Talvez tenha nascido para isso; sempre questionar, sempre procurar, tentar não me amargurar.
Viver simplesmente.
Um dia após o outro; rindo, chorando, vendo a chuva...
Observar.
Para isso nasci!

Pontos de Vista.

Eu tenho mil faces diferentes.
E também mil almas diferentes.
Sou rogado, feliz, penitente...
E nunca se sabe se estou triste ou contente!

Eu tenho mil olhares diferentes.
Difusos, mareados, confusos...
E nunca se sabe, se o que olho,
é o alvo da minha vontade...
Ou apenas, uma reta, um atalho, um fuso!

Eu tenho mil seres que em mim habitam.
E não sei, se quem me comanda são eles;
ou se sou eu que os incita!

Eu tenho mil vontades diferentes.
Às vezes canto, às vezes danço...
Às vezes quero ser vento.
Sem dono, sem cor, sem sentimento!

E às vezes quero ser apenas eu.
Mas sofro; pois é difícil...
Pois sou faces, olhares, seres, vontades;
almas diferentes!

Encontro Marcado.


Encarei a morte.
E vi de relance seu decote!
Profundo em V.
Ironia.
V de vida.
V de vazia.
Quase a comprimentei; mas que tom usar?
Fúnebre, funesto?
Ou alegre como a voz de uma corista?
Talvez intimista.
Encarou-me ela.
À desdenhar-me.
Bocarra gigante.
Quer-me agora?
Leva-me num fulgor galopante.Sem tempo pra ver a vida passar!
Sem tempo de sentir o coração parar!
Sem tempo das retinas fechar!
Leva-me somente, quando ao chão eu tombar,
Sonatas de violino ecoar, meu corpo a alma abandonar...
Pronto estou, leva-me quando desejar!

Bom Dia!

Hoje, ao abrir a janela, a vida sorriu-me.
E era um sorriso claro!
Sorriso de céu azul.
Respirei profundamente.
O ar inflou meus pulmãos.
Virei fotossíntese.
Expeli carbono, suguei oxigênio.
Senti o silêncio, com os olhos fechados.
Tangente, partículas de som, dizimadas no espaço.
Espaço para plainar o corpo, libertar-se dos grilhões, do peso da alma obesa.
Flutuei.
Balão de gás.
Audaz.
Subindo até desaparecer no infinito.

domingo, 15 de abril de 2007

Benjamim.

Quando eu nasci, ouve um alinhamento planetário.
A lua apareceu mais alva, e todas as estrelas poliram seu brilho!O céu púrpuro abaixou-se, quase a tocar-me!
Mesmo assim relutei.Briguei.Engalfinhei-me com útero, ovários e trompas.Quase me afoguei, e por pouco não me enforquei em meu cordão umbilical!
Ainda assim nasci.Vim ao mundo.
Desarvorada, ao avesso, incrédula e raivosa.
Como se um anjo burro me guiasse, logo notei.
Não era um anjo culto, letrado, de alta hierarquia; devia estar apenas cobrindo a folga do meu.Com certeza não estava à trabalho; devia jogar truco e fumar cigarro sem filtro!
-Que fazes? Perguntei.
-Espero.
-O que esperas?
-Que vingues.Nasceu muito roxa, sem ar, quase morta!
-Querias o que?Pedi pra vir?
-Não o quero aqui.
-Cumpro ordens.
Disse apontando o polegar para cima.
-Mas, também não queria estar aqui.
-Ès burro, anjo?
-Não.Sou calado.
-Como é seu nome?
-Benjamim.
-Benjamim?Isso lá é nome de anjo?Anjos têm nomes com infinitas terminações em el!
-Sim.Mas sou Benjamim.
E seguiu-me assim pela vida.
Calado, sem direção, sem responder a nenhuma de minhas insondáveis questões.
Era eu que sempre lhe respondia às suas aflições de anjo, estranho par!
Queria comer pêra, nadar no mar, sentir o gosto do sangue, ser visível...
Não passara no teste pro elenco de "Asas do Desejo", de Wenders, sua grande tristeza!
Entendi-o.
-Benjamim?Gostas de mim?
-Parto estranho, vida estranha...
-Sim!

A Espera.

Talvez o tempo não tenha parado, mas o ar está carregado; odores, vapores...
O vento como sempre ronda à minha volta, na esperança que eu o veja, como gostaria!
Tantos segredos para contar-lhe!
Quantos segredos ele me contaria!
Oscilando entre as folhas como serpente, ele chega.
Imutável, silencioso; invade portas e janelas, frestas.
Cortina balança, cadenciada, voluptuosa se entrega!
Na espera...
Ouço o barulho do vento, diálogo mudo!
Amantes invisíveis, contidos.
Na imensidão do quintal, espero...
Todos os dias, agostos eternos.
Lábios trincados.Aguardo.
Silenciosamente, espero, e espero...
Que volte do mar, ou de qualquer lugar, que semeie aqui mudas de flores em mim!
Jasmim!

sábado, 14 de abril de 2007

Absinto.


Para que dormente se abra minha mente.
Formidavemente meu corpo mergulhe...
Águas escuras e sombrias.
Enverede-me por ondas.
Abismos sem fim, profundezas da alma.
Sem calma.
Desperte o buraco negro do ser, o opaco.
Perca-me em mim mesmo, como sempre sonhei.
Invada todos os recônditos do castelo, derrube a ponte elevadiça; pobre donzela em fogo!
Desfaça a armadura, que elmos rolem pelo chão!
Que esteja quente meu coração!
Derretido, queimando em brasas do inferno.
Doce inferno!
Como Dante, como antes, como sempre.

Fuga...

Janela aberta, fuga...
Para que o vento entre e traga o ar.
Porque o ar é o mesmo aqui e em todo lugar.
Bendito ar, que é o mesmo que respiras estando aqui ou em qualquer lugar; perto ou longe de mim, em abismos ou céus sem fim, no asfalto quente ou na água fria de sua banheira vazia.
Vazia de mim agora, a rua da sua casa chora!
No interfone com metálica voz, ou na foto dentro do livro; a desbotar seu tom, a perder a forma como perdemos nós.
Que o vento traga o ar!
Maldito ar, que trás seu perfume, qualquer coisa agora de vulgar; pois quero dizer-te frases feias, como se fala quando se quer matar, ou morrer de amor!
Ar, que se infiltra e se instala, que me falta e que me fala, de suspiros que ouvi, quando ainda estavas aqui; fugindo da chuva lá fora.
Molhada, sorrindo um riso sem fim, talvez já com pena de mim,
não via seu riso nervoso; dizendo adeus a outonos, palavras sem frases...
Parando o ar .
Lá fora, carros passavam, vidros fechados, sem adeus nem mãos a acenar!

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Presença.

...Sempre estive aqui, entre lembranças que não vivi e sonhos que não viverei.
Sempre estive aqui, com achismos certeiros e certeza nenhuma.
Sentindo perfumes pelo ar, presenças invisíveis, vento o vento sofrer por não se mostrar.Apanhando.Sempre aceitando a deixa, sempre me suicidando!
Levada por pernas que ora não queriam ir, ora não queriam ficar.
Tentado domar uma alma libertina, tentando respirar sob a água, afogando-me entre paredes...Sempre enxergando através da matéria!
Sempre retirando cascas, procurando o doce-amargo da vida, o suculento e doloroso sabor de desvendar almas, de entender o que se há atrás de palavras, de entender o que não se é dito.Sempre estive aqui, buscando o que talvez não possa ter.Buscando perigos, caixa de Pandora, arco-iris que não existem!
Sempre estive aqui, à espera, à espreita, aguardando momentos...
Entre palavras, letras e sinais; buscando o exato, o sentido.
Fazendo existir o que não existe!


Foto: www.meinframer.wordpress.com

Ninho...

Um pássaro pousou aqui.
Silenciosamente, como pássaros pousam.
Num galho, noutro, no telhado, depois em mim.
Como se esperasse fazer de meu coração sua gaiola.
Cantou em meu ouvido, melodioso e afoito, se enroscou em meu cabelo; como se estivesse em seu ninho seguro.
Voou em minha volta como se marcasse sua casa; ia ao longe e voltava, assoviando palavras de pássaros.
Tão pequeno ser!Tão grande desejo de ser!
Pássaro, passarinho, passaredo; fez seu ninho aqui, em meu coraçao, seu rochedo!

Lacunas.

...Estou fora de mim, e visito com melancolia meus aposentos desertos.Cômodos empoeirados e vazios.
Olho furtivo na fechadura, nas paredes ranhuras.
Casamatas vazias.
O que escondiam?
Que nem agora posso ver?
Surreal viagem à uma alma surreal e fria!
Busco o dia que virá clarear minha noite sem lareira; estou sem eira nem beira.

Abro os olhos, retina nervosa.
Fixo o ponto fica, e nem sei , mas sei.
A noite ainda pernoita, é longe a aurora.
Perambulo entre paredes de mim e talvez esse eu não tenha fim!
Olho furtivo na fechadura, nas paredes amargura!
E sua cor é bonita!Me fita e me encara, e a dor não para.
No vão da escada, nada...
Degraus para descer ou subir, mas nunca estagnar como água parada!
Saio de mim.Não tenho volta e nem pra onde ir; a noite ri.
Sim, ela ainda está aqui!
Tornei-me ela; par singular, não espero mais o dia nem a suave claridade do seu despertar!Escondo feridas de toda uma vida!
Amargura furtiva.
Olho no olho da fechadura, que me olha de volta com candura!
É sempre noite em mim, essa casa tão escura!

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Garça Branca...Primeiro Ato.

...Ela chegou.
Algumas vidas atrasadas, mas chegou.
Sorriu como se aquilo bastasse, e bastou.
Andou por entre seres invisíveis com suas longas pernas de garça branca.
Sorriu novamente e se desculpou:
-Andei muito, entre tantos infinitos!Me perdi tanto, procurando aquilo que me faltava, voei sem asas e cheguei aqui.Vou me sentar e descansar, pois agora estou em casa.

Sentou-se com suas pernas longas de garça branca, mostrando um vislumbre do paraíso, tirou o cabelo negro da testa com um gesto atemporal, um gesto de infância.Olhou docemente como como quem espera ver uma bela paísagem!
Sorriu.

Sua boca estava sempre sorrindo!
Rodou com seu belo vestiso vaporoso como asas de borboleta!
Mostrando silhuetas, encantando estátuas, ofuscando ninfas; ruborizada, escandalosa,cheia de promessas, cheia de vida!
Todas as flores se matizaram para vê-la; sem inveja, sem rancor, como se ela trouxesse o sol.
Sorriu com os olhos, com a boca, com o corpo todo!
Dançou com pés descalços na grama molhada, mostrando suas longas pernas de garça branca.

Garça Branca...Terceiro Ato.


...Ela virou-se.
Tão suavemente, que o tempo nem notou.
Olhou-me com seus olhos, faróis, tão distraidamente que o tempo nem respirou!
Senti seu olhar sobre cada poro do meu ser, tão discretamente como o vento; que não se ve, mas se sente infinitamente.Tentei falar, mas faltou palavra, tentei sorrir, mas faltou expressão, eu era nada, ela era tudo; o tudo do meu nada!
Èramos seres no mundo.E o mundo era silêncio!
Seus olhos, faróis, impregnaram-se em mim como um clarão de manhã; fui seu dono, mesmo sabendo do inevitável abandono.
Afoguei-me.
Ela sorriu e seus olhos, faróis iluminaram-me para sempre.
Agasalhou-me sob suas asas brancas e sedosas, abraçou-me com braços, pernas e corpo.Lavou-me a alma; não com água, mas com fogo!Lava de vulcão; e eu de extinto tornei-me a própria erupção!

Garça Branca...Epílogo.


Esvaíu-se, como água em terra seca.
Apagou-se, como chama ao vento.
deixou de existir, sucumbiu-se.
Veio em silêncio, foi-se calada.
Sem dono, pálida como sempre!
Será que esteve aqui?
Dejavu, não sei...
Será que a vi?
Olhei-a?
Toquei-a?
Olho minhas mãos, como se pudesse segura-la ali, em vão.
Miragem talvez; deserto eu, oásis ela.
Como viverei?
Pintas, pernas, olhares, sorriso?Não se vá Monalisa!Talvez mais tarde, adiante, nunca; mas não agora!
Ouço o vento, está aqui.
Olhou-me, e seus olhos farois, rasgaram-me a alma!
Olhou-me por sobre os ombros, sorria...Com os olhos, com a boca, com o corpo todo!Como o dia em que chegou; branca, com seu vestido vaporoso como asas de borboleta!
Foi-se para infinitos, para céus que não são meus.
Esperarei aqui, talvez na próxima estação...As garças sempre voltam.

Paixão...


Eu gosto de escrever.É um mal crônico!
È un despudor sem fim.
Como se ficasse nua, e não sentisse vergonha alguma!
Não me importa muito...
Alguns gostam, alguns detestam; mas todos me vêem nua,
andando como Eva no meio da rua!
Pois é assim que sou quando esrevo,
sem roupa na pele, a alma nua!
Sentimentos aflorados nos poros;
o que escrevo, às vezes me dá medo,
mas é o que sinto...quando escrevo, jamais minto!
É uma erupção, lava jorrando, queimando a terra!
Não sei o que sente quem lê, mas pode saber...Sou eu;
às vezes certeira, às vezes morteira, mas sempre despida.
Desfilo minhas feridas!
As do corpo sempre saram, as da alma...o tempo sopra,
leva embora mundo afora...Semeia para que virem flores!
Alguns nascem...Outras fenecem, se chamam dores!

Carrie...

...Talvez eu seja mesmo diferente, não gosto de rosas, e recebe-las nunca me deixou muito contente...Talvez eu seja mesmo diferente,
gosto de ler jornais, brochuras, manuscritos, sempre pensando no que já foi dito, sempre sentindo de alguma forma o que foi escrito.
Talvez eu seja mesmo diferente; gosto de metamorfosear-me...
gosto de Kafka; não importa a dor que eu sinta ao me tornar uma barata, é o inexato que me mata!
Talvez eu seja mesmo, estranha, esdrúxula, esquisita; mas de que adiantaria ser um ser, que nada irrita, que não pertuba, que não atiça, que nada irrita!
Talvez me vejam pelo avesso;
Sou carne, não sou gesso;
talvez seja até normal...
Um dia lua, um dia sol,
Um dia doce, um dia sal!
O gosto que sinto, é doce-amargo...
Como tudo, como nada...
Como cereja, como aspargo!

Despetalando...

Despetalando...
Caindo folha por folha no chão;
A leveza ao cair lentamente...
Como poeira.
como dizer desaparecendo, sem aparecer?
Ser invisível como tudo que é demasiadamente visto?
Ser calado, lábios costurados com linhas de silêncio!
Silêncio...ouviu?
Estar, ser, ficar, jamais se mostrar!
Ser como um arrepio...
Onda de frio...
Um anjo passou aqui!
Pulou, mergulhou.Mas não se encontrou!
Não sentiu o vento.Maldito vento que me mata de inveja!Daria um dia lunar pra ser vento...
Ventania, vendaval, assovio no canavial...
Cheiro de roupa limpa no varal...
Se fosse vento por um instante sequer; sentiria-me.
Se arrepiaria, olharia para os dois lados...
Talvez até sorrisse!
E olharia para o céu, ouviria o som do silêncio farfalhando...
Um dia ao acordar, acordarei ventando, saindo pela janela...
Sem cor, invisível, como sempre quiz!
Nesse dia com certeza, eu serei feliz!

Perfil.

Sou louca.
Do tipo que olha pra cima, esperando ver ets.
Sou imprópria.
Para menores, para completos e estruturados, para comuns.
Sou estranha.
Para normais, para reais, para os que não vêem.
Sou alta.
Da altura dos maiores sonhos, ainda não realizados!
Sou sábia.
Porque sei que viverei minha vida toda sem nada saber; e aceito essa condição.
Sou frágil.
Porque minha matéria, são átomos e moléculas dispersos em volta de um núcleo confuso.
Sou sincera.
Porque digo a mim mesma verdades secretas, escondidas em baús enterrados no meu coração!
Sou imperfeita.
Porque se perfeita fosse, não existiria.
Sou pessoa.
Porque sinto, porque minto, porque choro, e as vezes até imploro...
Sou.
E o que me importa é ser, estar, ver e viver; porque daqui só levarei o que fui, o que vi, e o que vivi...Que minhas retinas transbordem, que eu ame e que eu sofra; mais jamais levarei hipocrisia...jamais negarei sentimentos e desejos a mim mesma!
Não me esconderei da vida, se ela quizer, ela que se esconda de mim...Mesmo assim jamais deixarei de procura-la!



Foto by Helena Taruira.

Desatino.

Porque nascer é destino, e porque
viver é um desatino.Porque a estrada é sempre errada, e a escolha é sempre torta.E toda tarde
alcança a noite, e toda noite finda no dia, e todo dia avança e nunca se cansa.Porque o retorno é eterno, e eterno é o retono.Porque o peso é leve quando se ama, da mesma forma que a leveza é insuportável quando se deixa de amar!Porque côncavo e convexo se encaixam, da mesma forma que a cabeça se quebra, no quebra-cabeça.Porque a mente, mente e engana e a alma o corpo profana, por estar dentro; da mesma forma, que nuca e bacia, são palavras que lembram orgia, outra palavra milenar, mas que não se deve falar.Porque querer não é correto, e nem se deve passar perto.Porque na vida é preciso ser discreto, ser feito de concreto, não sentir o coração bater; porque talvez seja errado, o verbo intransitado, que não deveria ser verbo e sim palavra qualquer!Porque talvez se dormindo vivesse, sonhasse acordado, sem dor nem pecado, sem certo ou errado, sendo só querer!




quarta-feira, 11 de abril de 2007

Nós...separados!


...Quero que me esqueças; e não se lembres mais.
Ao amanhecer, em frios lençóis a abraçar-te, esqueça-me...
E à mesa, ao tomar café, não se lembre mais de nem um gesto meu.Virei fumaça do seu capuccino, neblina...
Partículas invisíveis que nunca enxergou!
Virei silêncio calado, que nunca falou!
Virei vapor no banheiro, água quente do chuveiro...
Esvai-me pelo ralo, e você ironizou.
Só agora que seu café esfria notou.
A falta de alguma coisa familiar, talvez um cheiro peculiar, sua
alma metade sem par!
Da janela, sopra o vento em que me tornei, cadeira balança;
não quero vingança, quero que vivas à me esperar , do quarto á
sala de jantar!Murmuro, esqueça-me!
Mão, coração, cabeça; esqueça-me!
Esqueça-me entre paredes de mar, paraíso lunar!
Esqueça-me no esquecimento!
Desbotou-me a vida, fotografia partida, dividiu-se nós dois:
Tornei-me vento sozinho, você, solidão sem caminho, somos areia
e mar; breve encontro lambido, zumbido de concha no ouvido,
vou indo, preciso voar!