terça-feira, 30 de novembro de 2010

Retorno.


E aqui eu fiquei.

Com os pontos e sem os is.

Uma coleção de pequenos nós.

De pequenos fiapos soltos.

Ouvindo essa música melâncolica,

e gostando...

O olhar fixo na poeira densa,

que o sol ilumina.

Imaginando meios e fins

para uma estação intermediária.

Nas sacadas, luzes perfiladas

coloriam qualquer coisa; até

os passos apressados do mundo inteiro!

Tudo gira definitivamente.

Ainda hoje, e sempre.

Nossa maior glória; dar voltas sobre

nós mesmos.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Então...


Deixa assim.

A gente combina

nosso encontro, nos intervalos

do tempo.

Quando os ponteiros se bandidarem para nosso lado.

Deixa assim.

Todo nosso tempo é tempo.

È pouco, é raro, mas sorria!

Da piada, dos acordes, da tigela de açaí.

Taí a graça.

Me acorde pela terceira vez, me conte o

que houve, o que eu perdi.

Da outra vez, eu prometo não dormir.

Eu ouço de olhos fechados,

para que cada letra soe melhor,

para que eu nunca esqueça sua voz.

Para que eu viaje na memória

dos lugares que você vê.

São minhas melhores lembranças!

Deixa assim.

A gente combina.

Tanto!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mel?


È desse jeito.


Hipócrita.


Assim, sobrevive a humanidade.


Com muita vontade.


Os meio-termos da vida.


A poesia dissimulada.


Parafrasear os sentidos


que querem dizer


coisas inevitáveis.


Coisas soltas por aí.


Alguém que as junte, e quem sabe até goste.


Até faça questão.


A questão é essa.


Os pontos, as vírgulas, interrogações.


E sempre, as reticências...


O deixar aberto.


Pra quem sabe ler, um pingo é letra.


Treis, então?


Uma manifestação.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010


Desconhecido.

O destino me pegou.

Sorriu-me; alvos dentes.

Todas as pétalas no chão,

e o vento...

As coisas simples da vida.

A disposição de todas as coisas.

A nomenclatura dos seres.

Ensaio a peça.

A madrugada assiste mais

um desenrolar da noite;

eterno retorno!

sábado, 26 de junho de 2010

Herança.


Eu deixo pra depois.

O que eu não posso.

As coisas que não são

pra hoje.

Deixo pra depois

da letargia.

Deixo sequenciadas dentro

da pasta que guardo em mim.

Datilografadas numa folha amarela

com pequenos pássaros marrons.

Deixo minhas tempestades.

Meus raios solares que atravessam

janelas de vidro.

Minha perplexidade, e alguma mecha

do meu cabelo; para que se guarde a cor.

Eu deixo sorrisos soltos e talvez raros,

mas de grande verdade.

Eu deixo pra depois que se passem

as coisas que são necessárias.

Um veio que sempre corre molhando

a esperança, quando ela ameaça secar.

Deixo um par de tênis velho para tardes

de outono, e um olhar de cílios

longos, de onde saem toda luz que preciso!

È uma pasta pequena, mas onde cabem

todos os sonhos do mundo!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sonífero.

O imenso não é tão grande.
O que o torna imenso é o vazio.
Cortes na carne e sal para refrescar.
Segue-se no outro dia.
O sol alto, a fumaça encaixotada na
garganta, o despertar.
Toda palavra é arma e rima.
Toda sorte e sortilégio, formam
o que virá.
Tranquilo, infalível, visceral.
O intervalo da noite.
A mão passada na cabeça, o sonho.
Sono...Amanhã deixo minhas pupilas
à mostra.
A manhã deixa suas pupilas à mostra!



terça-feira, 15 de junho de 2010

Percepções.

...E eu ainda continuo soprando as mãos com meu hálito de bala halls.
È um gesto involuntário, de tempos.
Ao entrar no ónibus, o repeti sem ver; pela lembrança, pelo frio.
Pequenas percepções sensoriais.
A moça da poltrona à frente, tirou um pequeno espelho de bolsa
para retocar o batom; o que me fez reparar em suas unhas.
Eram unhas bonitas. Curvadas, longas, de onde a cor sangue brotava
do esmalte. Pequenas percepções...
Olhei para as minhas próprias unhas.Eram pequenas, curtas, e raramente esmaltadas.
Alguma cutícula aparecia.
Analogicamante muito diferentes das unhas da moça da
poltrona à frente.
Olhei novamente minhas mãos. Tão normais!
Brancas e pequenas, as unhas curtas, os dedos nodosos...
Me esqueci daquilo.
Os vidros das janelas escorriam água de frio, a poltrona apertada,
e a distância do engarrafamento.
Sim, era como se estivéssemos mesmo dentro de uma garrafa...
Apertei a blusa de lã, soprei as mãos e esperei o sono.

domingo, 30 de maio de 2010

Domingueira.


Gostaria de deixar alguns frisos aqui.

Nem mesmo sei direito o efeito disso.

Parei um momento para visualizar meu

pensamento. Penso em coisas longínquas...

Uma manilha rabiscada de carvão, foguetes

num dia doze de Outubro, um velocípede

bem antigo, cacos de louça quebrados pelo

quintal...

Numa tarde brusca e escura, tempestade.

As telhas do quarto quebradas, e a chuva vazada...

Uma paixão por elementos, um pé de laranja lima,

uma longa escadaria conduzia.Eu não sabia que

havia além. Além de minha alergia à inúmeros

tecidos e sintéticos da vida, além de minha sempre

estrepolia, além de minha cicatriz na sombracelha.

Eu parei de perceber todas as coisas; no momento

em que todas as coisas se aperceberam de mim.

Uma permuta sem nenhum consentimento. Foto: Gabriel Andrade.


Tá bom.

Tinha uma pedra no caminho.

Meu amigo poeta, eram tantas pedras...

Nem te conto.

Era muita obra de arte a ser modelada!

Pequenos, eram eu e o martelo.

Mas como era enorme a teimosia!

E veja só, meu amigo de tristeza e herança,

não houve uma que não tenha se tornado grão!

Grão para ser semeado em tanta aridez macia!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Bilhete.


Nesse dia tosco, busco olhar além.

Paredes entre montanhas.

As aves soltas, olhares baldios e tristes.

As coisas soltas e baldias.

Pensei criar um novo movimento.

Uma rebelião.

Pensei em descer além do patamar

das coisas que não entendo.

Pasmaceira.

Buscar além do gole de um dia de vida.

Um porre de vida.

Olhei para aqueles lados com arestas,

desisti de aparar, de guardar. Minhas folhas

estão crescendo, num indo sem fim!

Pouco falta para alcançar um ponto sem volta.

Acho que no fundo, sinto imensa inveja !

Dessas coisas de olhar...

Dessas coisas concisas...

Dessas coisas fáceis...

De muitos caminhos.

Pasmaceira.

Essa inveja, ainda me mata!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Dizeres.


Então é assim.

A mão no interruptor.

O arco, a flecha, a dor.

Os dizeres, os seres.

Todos os quereres.

Num Agosto longo

de lábios rachados.

Um leve desmaio

de olhos, soslaio.

Todos sentados

na praça, tecendo

epitáfios para depois

de amanhã, amanhã.

Inverossímil fato.



sábado, 17 de abril de 2010


Eis aqui meus livros,


nessas letras que não foram


por minha mão escritas, saberá


de mim, tanto e quanto.


Meus dias inglórios, minhas


melancolias tibetanas, meu riso parco.


Saberá de mim em cada linha frisada, ou


passada despercebida, aleatoriamente.


A crença insana de sempre querer sorrir


e chorar, a vontade de não me levantar,


nas manhãs com a garganta fechada.


Tantos sois e luas num pequeno céu.


Maneiras de se livrar da tentação.


Nesses livros que te trago, trago a


viagem preparada...


Tanta palavrinha!


Ora, quem sabe precisasse de lupa!


Tantos outonos e suas folhas, formigas


nos tacos gastos do quarto...


Trago-te o silêncio mais bonito.


Aquele que antecede as coisas imperiosas.








domingo, 21 de março de 2010

Roupagem.


Uso muito as palavras.

De forma silenciosa.

A vida de minha janela é serena!

Pequenos azuis e verdes pousam,

em varais de céus.

Tudo parece tão certo!

A torre, os fios, os nimbos.

Cada dia rápido, ou arrastado.

O sorriso, ou a falta dele, a lida.

A obstinação.

Os sinais do tempo em meu rosto.

Tudo é real.

Mesmo as coisas que ainda não fiz...


domingo, 31 de janeiro de 2010


Não consigo largar o vício.
Essa manifestação do querer.
Já criei diálogos longos, e monólogos
intensos; falei com minha mão.
Se aprende a ser o que se é.
Essa mistura de prazer e dor
que definha e realiza a vida.
Gargalhadas seguem-me,
como o sangue que lateja
nas vias públicas de minhas veias.
O sorriso eu escondi algum tempo.
Mas restou a intenção, o crepúsculo.
Restou milhares de contas coloridas,
um rosário a ser desfiado toda manhã,
toda noite, por dedos rápidos e ansiosos.
A alegria é uma coisa única de cada pessoa.
Assim como o coração.
Seu sabor e seu medo.
A dose certa e correta da batida.
Se soubesse a dose certa e correta...
Tomaria o veneno, e sorveria o remédio!
Eu opto pela não condição.
Eu serei enquanto puder não ser.
Suavemente não ser notada.
Como um aroma muito distante,
em uma manhã repeleta de odores!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Indefinida...

...Já escrevi inúmeros perfis aqui...
Talvez por ainda não ter conseguido definir-me completamente.
Eu agradeço.
Não gostaria de ser retidão somente.
Sigo a vida moldando-me à cada dia.
Imperfeita sim.
Todas as minhas células se compreendem e se distanciam...
Sim; tenho momentos terríveis!
E muitos bons momentos, todos comigo mesma.
Acredito sempre, mesmo quando não aparece em meu rosto.
Eu sou uma, partida em muitas, e me respeito por isso.
Me respeite também.
Quem sabe?
Talvez eu deva pedir perdão...
Talvez devam perdão a mim!




Foto Kassius Santos.

Aleatório.

Aleatoriamente...
O promontório no mar
algumas gaivotas
marolas...
e o olhar!




Foto Kassius Santos.