domingo, 15 de abril de 2007

Benjamim.

Quando eu nasci, ouve um alinhamento planetário.
A lua apareceu mais alva, e todas as estrelas poliram seu brilho!O céu púrpuro abaixou-se, quase a tocar-me!
Mesmo assim relutei.Briguei.Engalfinhei-me com útero, ovários e trompas.Quase me afoguei, e por pouco não me enforquei em meu cordão umbilical!
Ainda assim nasci.Vim ao mundo.
Desarvorada, ao avesso, incrédula e raivosa.
Como se um anjo burro me guiasse, logo notei.
Não era um anjo culto, letrado, de alta hierarquia; devia estar apenas cobrindo a folga do meu.Com certeza não estava à trabalho; devia jogar truco e fumar cigarro sem filtro!
-Que fazes? Perguntei.
-Espero.
-O que esperas?
-Que vingues.Nasceu muito roxa, sem ar, quase morta!
-Querias o que?Pedi pra vir?
-Não o quero aqui.
-Cumpro ordens.
Disse apontando o polegar para cima.
-Mas, também não queria estar aqui.
-Ès burro, anjo?
-Não.Sou calado.
-Como é seu nome?
-Benjamim.
-Benjamim?Isso lá é nome de anjo?Anjos têm nomes com infinitas terminações em el!
-Sim.Mas sou Benjamim.
E seguiu-me assim pela vida.
Calado, sem direção, sem responder a nenhuma de minhas insondáveis questões.
Era eu que sempre lhe respondia às suas aflições de anjo, estranho par!
Queria comer pêra, nadar no mar, sentir o gosto do sangue, ser visível...
Não passara no teste pro elenco de "Asas do Desejo", de Wenders, sua grande tristeza!
Entendi-o.
-Benjamim?Gostas de mim?
-Parto estranho, vida estranha...
-Sim!

2 comentários:

Zed disse...

bela!

Unknown disse...

putz esse é um dos mais bacanas q ja li até hj!!!!!!